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2012 - Livro Vermelho 2013

Comanthera mucugensis (Giul.) L.R.Parra & Giul. EN

Informações da avaliação de risco de extinção


Data: 04-10-2011

Criterio: B1ab(i,iii,iv)

Avaliador:

Revisor: Tainan Messina

Analista(s) de Dados: CNCFlora

Analista(s) SIG:

Especialista(s):


Justificativa

O endemismo restrito e a utilização desta espécie comercialmente reduziram sua EOO ao longo dos últimos anos e a extinguiram em algumas regiões. O extrativismo, o fogo e a agropecuária são as principais causasda redução da população e contínua perda da qualidade do hábitat. As pesquisas indicam que as técnicas de cultivo demonstram taxas de sobrevivência não muito altas. Projetos desenvolvidos com sempre-vivas têm demonstrado a extinção em regiões antes ocupadas por essa espécie. Com EOO de 2.047,87 km² e sujeita a três potenciais situações de ameaça, foi considerada "Em perigo" (EN).

Taxonomia atual

Atenção: as informações de taxonomia atuais podem ser diferentes das da data da avaliação.

Nome válido: Comanthera mucugensis (Giul.) L.R.Parra & Giul.;

Família: Eriocaulaceae

Sinônimos:

  • > Syngonanthus mucugensis ;
  • > Syngonanthus mucugensis subsp. mucugensis ;
  • > Syngonanthus mucugensis subsp. riocontensis ;
  • > Comanthera mucugensis subsp. mucugensis ;
  • > Comanthera mucugensis subsp. riocontensis ;

Mapa de ocorrência

- Ver metodologia

Informações sobre a espécie


Dados populacionais

Pereira et al. (2007) realizaram estudos genéticos em 10 populações de 3 diferentes localidades da Chapada Diamantina; estes autores consideraram Mucugê (seis pop.) como sendo uma área e Rio de Contas (três pop.) e Catolés (uma pop.) como outra. Um total de 340 indivíduos foram amostrados nesse estudo. Todas as populações apresentaram baixo grau de variabilidade genética. Parra (2000) afirma que a espécie também pode ser encontrada em outras serras baianas, nas proximidades de Abaíra e Rio de Contas. No entanto, posteriores estudos genéticos da espécie levaram Pereira et al. (2007) a peceber diferenças morfológicas entre populações da espécie em Mucugê, Rio de Contas e Abaíra, o que induziu a descrição da subspécie C. musugensis riocontensis, restrita a essas duas últimas localidades citadas. Portanto C. mucugensis é restrita as proximidades do município de Mucugê, como proposto por Giulietti et al. (1996). O coeficiente de endogamia obtido no trabalho foi alto, talvez devido ao fato de a espécie ser polinizada por insetos que voam curtas distância, resultando em geitonogamia e/ou cruzamento entre indivíduos geneticamente próximos, e também pelo fato de as sementes serem dispersas a curtas distâncias.

Distribuição

A espécie ocorre no bioma Cerrado, exclusivamente no estado da Bahia (Giulietti et al. In Lista de Espécies da Flora do Brasil; Forzza et al., 2010). Giulietti et al. (1996) afirmam que a espécie é endêmica dos arredores do município de Mucugê (BA), sendo restrita ao alto das montanhas que rodeiam a cidade, em altitudes entre 1100-1280 m. Já Pereira et al. (2007) afirmam que a faixa altitudinal de ocorrência da espécie em Mucugê varia entre 1100 e 1500 m.

Ecologia

Segundo Giulietti et al. (1996) a espécie é perene, sendo que a emissão de escapos se inicia em março, e os capítulos estão totalmente desenvolvidos e com flores em antese desde julho até agosto. Em dezembro, as plantas se encontram estéreis ou com poucos escapos velhos e com frutos sem sementes. Ramos et al. (2005) afirmam que a espécie floresce de Junho a Agosto. A espécie produz frutos por agamospermia em baixas freqüências. Os mesmos autores afirmam que apesar de as inflorescências serem monóicas, sem sobreposição das fases estaminadas e pistiladas, geitonogamia pode ocorrer, pois a espécie é autocompatível e diferentes capítulos, na mesma planta, em diferentes fases é comum, porém isto é improvável pelo fato da grande separação temporal das fases estaminadas e pistiladas (dicogamia). Segundo Ramos et al. (2005) o fruto amadurece depois de quase 45 dias, durante a estação seca, e a dispersão de sementes é anemocórica e/ou barocórica. Como mencionado por Pereira et al. (2007) a espécie pode se reproduzir vegetativamente.

Ameaças

1.7 Fire
Incidência local
Severidade high
Detalhes Ramos et al. (2005) ressaltam que extrativistas da espécie acreditam que a queima das áreas onde a espécie ocorrer irá estimular o crescimento futuro e a floração, esta prática certamente afeta a reprodução da espécie, devido ao fato de que muitos dos seus visitantes florais são espécies residentes, com características de vôo curto (como espécies de Diptera), e todas as práticas que levam a uma diminuição no número de polinizadores potenciais afetará necessariamente a manutenção da população de S. mucugensis. Segundo IBDF (1985) apud Ganem; Viana (2006) é possível que as queimadas constantes venham exercendo efeitos generalizados sobre as populações vegetais locais, reduzindo-as em número e área de distribuição.

1.1 Agriculture
Incidência local
Severidade high
Detalhes Harley et al. (2005) apud Ganem & Viana (2006), enfatizaram a necessidade de conservação urgente dos cerrados de Mucugê, no entorno do Parque Nacional da Chapada Diamantina, onde as medidas de correção do solo têm propiciado o desenvolvimento da agricultura de larga escla, reduzindo drasticamente a vegetação nativa e comprometendo a diversidade de fisionomias de cerrados da Chapada Diamantina.

1.3 Extraction
Incidência local
Severidade high
Detalhes A coleta é sempre feita antes do completo desenvolvimento dos frutos, o que certamente afeta sensivelmente a reprodução por sementes (Giulietti et al, 1996). De acordo com Parra (2000), C. mucugensis é a espécie com maior volume de comercialização na região de Mucugê (BA), sendo uma importante fonte de renda para o município.

Ações de conservação

4.4 Protected areas
Situação: on going
Observações: Parque Nacional da Chapada Diamantina (1985) com 152.575ha. Na Bahia, Syngonanthus mucugensis é a principal espécie explorada como sempre-viva, inclusive, seu extrativismo indiscriminado dizimou grande parte de suas populações, o que levou o IBAMA , no início dos anos 1990, a proibir a colheita e, apenas com o estabelecimento do projeto Sempre Vivas em 1996, a situação apresentou melhoras. Este projeto contou com inúmeras parcerias de instituições políticas, científicas e de representação social e culminou na criação efetiva do Parque Municipal de Mucugê. Com essa iniciativa, empregos e fontes de renda foram gerados para parte da população local, bem como garantida a sobrevivência da espécie (Teixeira; Linsker 2005 apud Costa et al. 2008). Segundo Vale et al. (2008) os campos de Sempre-Vivas (situados na área intangível do setor sul do Parque Nacional da Chapada Diamantina) ocupam grandes espaços e apresentam-se muito bem conservados, observando-se que C. mucugensis é abundante e bem protegida de extinção.

5.7 Ex situ conservation actions
Situação: on going
Observações: Projeto Sempre-Viva, realizado desde 1996 no Parque Municipal de Mucugê, com o objetivo de controlar a colheita e desenvolver técnicas de cultivo.

1.2.1.2 National level
Situação: on going
Observações: ​Anexo I da Instrução Normativa nº 6, de 23 de Setembro de 2008 (MMA, 2008).

Usos

Referências

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- COSTA, F. N.; TROVÓ, M.; SANO, P. T. Eriocaulaceae na Cadeia do Espinhaço: Riqueza, Endemismo e Ameaças. Megadiversidade, v. 4, n. 1-2, p. 89-97, 2008.

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Como citar

CNCFlora. Comanthera mucugensis in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de Conservação da Flora. Disponível em <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Comanthera mucugensis>. Acesso em .


Última edição por CNCFlora em 04/10/2011 - 13:26:22